A Comissão Europeia está a propor a proibição do granulado de borracha no enchimento dos campos de relva sintética. Atualmente na UE, cerca de 80% dos campos de relva artificial utilizam no seu enchimento granulado de borracha proveniente da reciclagem de pneus em fim de vida.
O granulado de borracha derivado da reciclagem de pneus usados corresponde a mais de 30% do mercado total da reciclagem de pneus na Europa e tem-se mostrado durante mais de 20 anos um material com grandes vantagens, permitindo alto desempenho aos campos e milhões de horas de exercícios desportivos nas mais exigentes condições meteorológicas. É de entre os mercados da reciclagem de pneus o mercado final mais maduro e tem sido a garantia de estabilidade para a indústria da reciclagem de pneus em fim de vida.
As partículas de borracha aplicadas nos campos sintéticos são utilizadas para manter as fibras plásticas que simulam a relva e dão ao pavimento conforto e segurança aos jogadores. As propriedades da borracha, como a absorção de energia, elasticidade e durabilidade, satisfazem as características do jogo, em termos de amortização de impacto e das várias performances da bola em campo, que são exigidos por organismos como FIFA, World Rugby, AFL Coaches Association (AFLCA, Liga Australiana de Futebol) e Rugby Football League (RFL, Inglaterra). O granulado de borracha pode amortizar os impactos que os jogadores sofrem em campo, prevenindo lesões e proporcionando segurança contra embates. Cumpre os limites dos PAH da regulamentação REACH e a sua utilização permite a poupança de 3.200 m3 de água por campo e evita a utilização de fertilizantes ou produtos fitossanitários, com respeito pelo ambiente.
Acresce que é um material que se encontra disponível o ano inteiro, fácil e barato de manter. Os campos de futebol de relvado sintético com granulado de borracha têm uma vida útil de aproximadamente 10 a 15 anos e permitem um tempo de jogo muito superior ao campo de relva natural.
No âmbito das medidas para erradicar a dispersão intencional de microplásticos, a Comissão Europeia propõe a proibição da colocação no mercado, com um período de transitório de 6 anos, do material granulado para utilização no enchimento de superfícies desportivas, em detrimento da aplicação de medidas de mitigação da dispersão dos grânulos que se libertam do campo e do seu controlo.
Estudos realizados e soluções já desenvolvidas mostram que a libertação de microplásticos provenientes do enchimento polimérico em campos desportivos de relva sintética pode ser reduzida a valores negligenciáveis pela implementação de medidas de gestão de risco disponíveis e comprovadas, como as estabelecidas nas especificações técnicas do Comité Europeu de Normalização (CEN) CEN/TR 175195.
Caso a proibição proposta venha a ser concretizada, as soluções alternativas poderão causar impactes negativos maiores no meio ambiente, incluindo maior pegada de CO2, o aumento da libertação de microplásticos procedente dos filamentos da própria relva sintética (fora do âmbito da restrição porque essas liberações são consideradas não intencionais), a utilização de pesticidas, fertilizantes, tratamentos químicos nos relvados naturais ou “bio”, conforme descrito nas poucas análises de ciclo de vida (LCA) disponíveis. As horas de jogo adicionas também são menores para as alternativas aos granulados de borracha de pneu e o custo total é consideravelmente maior para esses enchimentos do que para granulados de pneu. Além disso, o granulado de borracha de pneu é o único enchimento que provou ser um material reciclado novamente após o uso.
Com a proibição, a indústria europeia de reciclagem de pneus perderia pelo menos 30% de seu mercado final e seria colocado em risco a manutenção da própria indústria, uma vez que não existem soluções alternativas com potencial de substituição no mercado de reciclagem, apesar do investimento que tem sido realizado em investigação nesta área. A incerteza do destino destes quantitativos poderia levar ao retrocesso de anos de prosperidade, assistindo-se de novo ao acumular de stocks de produto reciclado de pneus sem escoamento ou à utilização de opções menos nobres, ou ainda à exportação para países fora da Europa com restrições menos exigentes, o que de todo não resolve o problema ambiental e até o acentua.
Anualmente cerca de 400.000 toneladas de granulado de borracha têm tido como destino o enchimento dos campos de relva artificial e têm contribuído de forma decisiva para a economia circular e para a sustentabilidade do fluxo de pneus usados.